sábado, março 18, 2006

Enfim a revolução.

Após o estrangulamento seu espanto foi do tamanho de seu sorriso momentâneo. Enorme.

A vitima era um potencial profeta, assim como todos os outros que surgiam dos becos.

Profetas eram uma questão de segurança nacional agora. Segundo autoridades locais, os chamados “profetistas”, disseminavam o terror e a subversão através de sua pregação fervorosa. Seguiu-se a ordem inicialmente de clausura para esses terroristas verbais.

Ironicamente todos os detidos com seu alto poder de persuasão facilmente conseguiam escapar e agregar mais fieis com aqueles que na jaula compartilhavam espaço.

Seguiu-se outra ordem: Clausura e mutilação das linguas dos clausurados por tal crime. O crime da fala.

Estes por sua vez, ainda possuíam a escrita. E como anteriormente, a fuga e a revolta popular fervorosa aumentavam.

Por fim a ordem da pena de morte seja lá de que maneira for. Morte.

Gregório tinha apenas 12 anos quando foi testemunha da execução de seu pai “profetista” por um cadete oficial.

Seu pai e o milico se entrelaçaram no chão, aos gritos de “você podia ter feito isso comigo Cesário!”. Ao que parece os dois já se conheciam, mas isso não evitou a morte por estrangulamento do patriarca Cesário.

Agora o pobre Gregório foi detido por esse oficial sem nome. Um oficial em prantos pelo o que acabou de fazer, mas ainda assim um oficial que esbravejava com o menino “você será diferente! Você será um perfeito civil rapaz, não como o imundo de seu pai!”...em um grito e outro ele soluçava demasiadamente. E o garoto só escutava sem uma lagrima só por seu velho. Ele odiava o pai. Depois de inúmeras noites de maus tratos desferidos por seu santo pai, seria compreensível seu atual sentimento.

São tempos duros. O mais novo órfão foi jogado em um reformatório publico para aprender a ser um verdadeiro cidadão. “Esquecer” era a inscrição que delimitava o mundo e o governo na porta de entrada da prisão juvenil.

Sr. Felix. Doutrinador-interdiciplinar.

Segundo aquele lugar, Sr. Felix agora era sua única verdade sobre convívio social sob os olhos da lei.

Dia após dia. Manhã após manhã. Gregório escutava todo o discurso civil-autoritário-em-pró-da-liberdade do Sr. Felix, que inclusive o fazia lembrar muito o discurso fervoroso-de-salvação-subversiva de seu finado pai. Um quer dar uma ordem para sua vida. O outro quer dar a salvação estabelecendo uma outra ordem para sua vida.

Apesar de completar 13 agora, Gregório desfrutava de uma imaginação bem aventureira. Ele preferia os infanto-devaneios a o reacionarismo ou a revolução popular-religiosa. Não conseguia encontrar o ponto que diferenciaria os dois lados. Por exemplo: Sr. Felix o batia constantemente por sua falta de comprometimento civil. O patriarca defunto Cesário também o batia, quando vivo, justamente pela sua falta de comprometimento com a “causa-maior”.

“O que aquilo tudo significava?”, pensava enquanto descansava sua mão altamente inchada de tanto tapas ligeiros que recebia durante o dia inteiro por chamarem a sua atenção.

isso irá continuar...sempre


THiaGo D.

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