Espera.
A bateria atacava com ira o seu momento solo. Os copos eram distribuídos de forma quase mecânica pelos homens com bloquinhos no bolso.
A mesa ao lado estava vazia, alias, a mesa do meu lado esquerdo. Do lado direito, estavam acomodados um casal muito singular. Ele, esguio, tremulo, olheiras profundas que não parava de falar. Ela, arqueada, batom borrado, extremamente calada. Suas ações automáticas fazem-me lembrar dos bibelôs a corda, a bailarina, o cuco, os suíços com a marreta.
O trompete entra como quem se esgueira até a colméia cheia de mel. O gelo derrete no espaço vazio que o copo em minha mesa está.
Na mesa antes vazia, senta-se uma figura que julgo ser um homem. Apressado, saca um aparelho eletrônico do casaco e começa a falar sozinho. Sua mão estendida procura os olhos daqueles que servem. Percebo que o relógio que usava era digital e preto, o mesmo relógio infantil que eu usava no começo da década de 90.
O sax dança com o contra-baixo de forma lânguida e ritmada como uma respiração. Minha espera chega ao fim, Karênina senta ao meu lado. Sua expressão de esgotada só realça seu olhar direto para o meu comprimento.
Como sempre ela pede um duplo de alguma coisa habitual. Ela continua a olhar, espera algo mais do que um simples gesto.
- Dimitre, o que acontece? O que houve?
Tremendo, continuo calado.
- Mas que diabos Dimitre! Fala comigo, o que aconteceu com você? – ela se aproxima, e segura minha mão esquerda.
Aquele toque, aquela pele. Não tive como me conter, o seu toque foi um choque sensorial que percorreu todo meu corpo e culminou em um calafrio na base da nuca. Agarrei-a, beijei sua boca profundamente, procurava algo profundamente naquele beijo. E eu sempre encontrava, apesar de ser totalmente inexplicável. Ao olhá-la, percebo sua perplexidade de sempre. Percorro minha boca até o ouvido direto.
- Saudade... saudade amor.
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