Câncer Interpessoal.

- Olá. Você é tão legal, não pode ficar assim pra baixo. Vamos numa baladinha glamourosa e nos acabar de dançar?
- Ah, você me acha legal? Eu te agrado? E aos outros? Eles gostam de mim também? Por que você sabe o quanto eu tenho que esquecer, adaptar, perder e aceitar só para que vocês me aceitem e eu não fique só no silêncio de uma tarde com meus pets entre paredes no alto de um prédio qualquer...
- Hã, claro.
- Sabe, a culpa do que aconteceu não é minha. Você sabe! Ainda bem que tenho vocês por perto, para me apoiar, para confortar . É lógico que vou sair com vocês. Vocês são tudo que tenho. Vou sair com vocês até eu não ter mais recursos para tal. Vou ligar até não haver distinção entre intimidade e coleguismo. Vou visitá-los até acabar a privacidade. Adoro vocês. Vou usar todos seus jeitos de andar e de se vestir. Vocês são todos legais. Vou usar todas as suas piadas e jargões até não saber quem realmente introduziu essas características no meio. Nisso tudo irei perder a minha identidade que já de certo foi de outra pessoa, aliás, aquela pessoa... e antes dela foi de outra e de outra e de... Farei até vocês começarem a me dar desculpas e eu a irrita-los... até começarem as intrigas, as traições, as brigas e as separações. Mas apesar de tudo isso irei me sentir forte, outra pessoa.
Valeu!
- Não entendi, mas ótimo, meia-noite e meia faremos um "esquenta" no Fly'n Leipzig's.
- Chiquérrimo.

O telefone é devolvido a sua base. O computador é desligado. A pressa complica a locomoção em um quarto sem espaço. O tempo vai escorrendo pelo seu crachá. Trabalho, atraso. E tudo continuará igual como nos tempos de acne nas costas... até a próxima crise.