quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Entre 67 tubarões.



Havia um telefone com secretária eletrônica. Hunter raramente atendia a uma chamada pelo fone. Escutava alguns segundos de sua mensagem de voz padrão, via quem era e o que queria. Achando interessante, acionava o viva voz. Não se importava em compartilhar a conversa com quem estivesse em volta. A poucos metros dali, uma TV de tela grande posicionada defronte a um sofá. Permanecia ligada, no mudo, nos noticiários da CNN. Eventualmente, sintonizada numa partida dos Broncos, num jogo qualquer da NFL, a liga de futebol americano, ou da NBA, a liga de basquete.

Em seus últimos dias, andava calado, irritado com uma operação no quadril, uma fratura na perna, e um tanto taciturno – sinônimo, desde que Freud inventou a cabeça oca, de gente que anda pensando demais. E pensando demais em quê? Sem o futebol, aos 67, pouco depois das 17
h30 do dia 20 de fevereiro, duas semanas depois do Super Bowl, enquanto seu filho, a nora e seu neto estavam num cômodo contíguo à cozinha, Hunter Stockton Thompson, filho de vendedor de seguros Jack Robert Thompson e da dona de casa Virginia, aboletou-se no sofá, defronte à TV, e telefonou à mulher, que se exercitava numa academia de ginástica. Andavam às turras com algumas idéias de Hunter em relação ao que o crítico H. L. Mencken definia como “métodos de produzir o êxodo pessoal”. Combinou que, quando Anita retornasse, o ajudaria a resolver problemas com a coluna que ele devia ao site da ESPN. Antes de desligar, às 17:42h, pediu licença, deixou o fone ao lado do aparelho, e disparou na cabeça um tiro de revólver calibre. 45. Anita ouviu o clique.
E, no instante seguinte, ele cessou o ato de pensar.

2 comentários:

Anônimo disse...

AS vezes eu acho que essa eh a coisa mais esperta que um ser humano pode fazer.

Eh como Stalin disse:

"Death, solves all problems. No man, no problem."

Anônimo disse...

E a saudade vindoura de um proximo fim.
Carnaval e Las Vegas, parecidos inigualageis.