sexta-feira, janeiro 27, 2006

Estrada



Chego em um lugar onde não existe continuidade de lugares.
Daqui, eu não posso voltar(ei). Rebato toda sua critica. Admiro o ifortuno.
Descomum. Des. Des. I.
Eu.
A pé, 34° na cabeça. A historia já é sabida. Depois de uma briga com aquela vaca um corte incisivo em meu abdomem e agora eu carrego todo meu intestino grosso nos braços. Você já tocou algum orgão humano algum dia em sua misera vida?
Pois é, carrego o meu orgão nos braços como se fosse minha prole. O intestino grosso é muito estranho de se tocar, parece uma bexiga cheia de farinha com um pouco d'agua e com a superfice totalmente lubrificada. Escorregadio. Pulsante ainda. Digo que fede muito. Como merda misturada com comida recém-preparada. Calor que calor. E caminho ainda. Eu quero viver, escapar disso e virar piada de um pronto socorro interiorano. Mas se não há carros, imagine hospitais.
Desconfio de que seja umas duas da tarde. Meu cú doe muito. Deve ser a conexão do reto com minha "cria".
Não consigo olhar para o que estou carregando. Enfrente sempre enfrente. Por que?
Tudo se mistura quando você tem certeza da eminência da morte, e não aquela velha historia de "um dia eu vou morrer mesmo". Pensamentos desconexos. "Como você pode desistir?", "você tem que ganhar!".....dificil.
Até que o inusitado vem como uma sedenta alucinação. Vejo. Vejo na beira da estrada um pequeno vidro. Minhas forças de longe não estavm mais comigo. Mesmo assim eu fui ver o objeto reluzente. Foi onde constatei que na verdade eram dois objetos faiscados pelo astro rei.
E eu não estava enganado. Era uma ampola. Morfina. E o melhor, tambem existia uma seringa.
Não fazia idéia de como eu poderia ter encontrado tal alegria no meio do "Nada". Como? Quem muito pergunta muito nega, não é? Então foda-se.
Mas meus braços estavam ocupados tentando salvar minha quase-vida. E agora?
Como eu vou pegar a ampola e a seringa aplicar sem deixar as minhas viceras interligadas cairem como merda (literalmente) no chão?
Mas percebi algo estranho. Sombras. Vultos. E quando eu olho para cima eu compreendo que realmente eu preciso desse opiacio. Abutres ou urubus, nunca sei a diferencia desses vermes com asas. Estavam atiçados pelo cheiro que eu estava exalando.
O ataque era uma questão de tempo. Já ouvi relatos de pessoas baleadas jogadas no mato proximo a estradas, que perderam seus olhos, pois essas aves atacam primeiro a visão da vitima. Assim como alguem come primeiro a azeitona de um Martini. A dor deve ser horrivel. Mas do que eu estou pensando...estou com um rombo na barriga e com quase tudo de fora. Dor...humpf!
Decidi morrer.
Deitei de barriga para o céu ao lado da morfina.
A quem eu tentava enganar? Onde eu conseguiria chegar nesse estado?
Era uma questão de sorte morrer logo.
Peguei e preparei a extra-dose. Injetei não sei porque na bunda. Nadega esquerda.
E a viagem veio e me carregou. Calor, mas um calor maternal senti naquele momento.
Mas infelizmente estava lucido ainda. Lucido o suficiente para ver o primeiro Carcará pousar em meu peito. E o segundo. E o terceiro...
Eles bicavam, tiravam um pedaço, outro e mais outro. Eu percebi quando eles chegaram no estomago. Um deles furou e caiu para trás por causa do suco gastrico.
E minha loucura aumentava a cada orgão degustado.
Até que encarei um urubu nos olhos, ele era estranho. Ele tinha um pouco de sardas.
E foi dele o golpe fatal. Com uma bicada direta no coração. Antes do fim ele me olhou de novo, e eu juro, eu o vi chorar sobre meu colo e coberto pelo

meu sangue e degetos vicerais...

ThiagO D.

2 comentários:

Anônimo disse...

nojentaum,baum tbm..,..palahniuk??..rs

Anônimo disse...

Que legal. Ecreves isso muito bem.
Quantos anos o escritor aí tem?