48 anos, 88 kg
Meu nome é Juz Cristovão, e antes de tudo, eu era um mendigo, daqueles bêbados e fedido que você atravessa a rua ou acredita que não vê, isso mesmo, eu “era”, não que agora eu “sou” rico, é porque eu estou morto! Isso mesmo, mortinho da silva. Agora, o que vai segurar você nestas linhas e dedicar alguns minutos de leitura para saber o que diabos aconteceu com farrapo encharcado de cachaça, sem nenhum dente e sem nenhuma atividade sexual?
Eu respondo; comodidade!
Sim porque, você vai se dar ao trabalho de amanhã de manhã, no caminho de seu trabalhinho de merda esbarrar com aquela figura grotesca jogada na calçada, que sempre te olha e gruni algo que lembra uma pergunta, mas você nunca entende e mesmo assim você diz que não tem dinheiro, e perguntar sobre sua vida, ou porque ele chegou aquele ponto?
Eu acho que não, então devo logo advertir que;
1.Isso não é nada interessante, pois é comum demais;
2.Pelo fato de ser muito comum, talvez você não tenha consciência de que isso é comum;
Se a 2. lhe pareceu meio poético, filosófico ou confuso, é porque mesmo morto, eu ainda estou de fogo!
Fato numero A:
Dia 23, moro ao lado de uma banca de jornal e o meu vizinho é um hidrante.
Fato numero B:
Dia 24, moro em uma geladeira do IML e o meu vizinho é o Mario Covas (ou alguém bem parecido).
Fato numero C:
Dia 2, moro no campus de alguma faculdade de medicina e o meu vizinho é uma cabeça muito simpática dentro de outro vidro de formol.
No dia 23, acordei e olhei para banca, e como sempre o Dailson já estava lá, arrumando todas as revistas e jornais. O Dada era um garoto muito legal, ele é da noitada, o único “normal” que fala comigo (tirando é claro o Pelé, meu amigo invisível). Dada chega sempre acabado da noite passada, mas é sempre amigável e sempre reclama da ressaca. É ele que me arranja a “maravilhosa”, com o seguinte argumento; - Ressaca de bebida só se cura com mais bebida, né irmãozinho?
Ai, depois de uns tragos e um dedo de prosa, vou-me embora com a minha viola mais “sem” viajar. Pedir uns trocadinhos, comprar uma garrafinha, tomar o sopão, hoje o dia esta cheio e olha que ainda tenho que dá uma passadinha no posto pra ver esse meu pé que não desincha nunca. Viro a esquina e atravesso a rua, quando eu olho direito, não é que um moleque em cima de uma bicicleta que vem descendo a rua me pega em cheio! Pois é, fui atropelado por uma bicicleta, mas calma ai, não foi a bicicleta que me matou, nem o moleque que me deu um chute depois de ver que entortei a roda dele (mesmo porque, nesta hora eu já estava morto)! Quem matou foi o paralelepípedo que minha cabeça encontrou no caminho da queda.
No dia 24, já são quase 18 horas dentro dessa geladeira esperando alguém fazer a maldita necropsia. Até que a portinhola se abriu e uma garota aparece e puxa bruscamente minha bandeja, ela é muito gostosinha, mas muito estranha, e com um jato de água ela me dá aquele banho. Meu Deus, agora que eu reparei, eu estou nu e a garota não tira os olhos de mim. No crachá dela diz: Dra. Ângela. Mas ela parece uma estagiaria. Depois do banho ter chegado ao fim, ela me vira de lado olha e olha, até enfiar três dedos de sua mão no meu cu e mexer em algo lá dentro, depois disso, meu membro, que modéstia parte não é modesto, começa crescer e ficar bem duro, ai ela me vira de novo enfia a outra mão no bolso e tira um preservativo (que exemplo, hein jovens?) e cuidadosamente ela vai colocando com a boca! Na próxima etapa, ela tira a calcinha e põe na minha cabeça e sobe em cima de mim. E lá se foi 1 hora contada de relógio, que ela passou se divertindo, depois do seu orgasmo, a garota olha ao seu redor e com a maior cara de nojo do mundo vê minha cara meio-morta e me dá um tapa e rapidamente sai de cima do meu corpo. E adivinhem só, meu pau estava todo gozado! Pode uma coisa dessa? Depois de devidamente limpo e depois daquela nefasta e saborosa orgia, a Doutora Escreve no prontuário; Traumatismo Craniano. E de novo volto para a geladeira.
No dia 2, não há muito de se falar desse dia. Mas depois de ter entrado pelos fundos da universidade de medicina, eu percebo que a Dra. Ângela estava lá, conversando com o professor do local e mais uma pessoa de terno que lhe dá uma maleta, com algumas notas de dinheiro, como eu sei disso? E por acaso isso interessa? Você esta lendo um relato de um defunto, quer explicação maior que essa?Hoje dia 14, já são quase 4 anos no bom e velho formol, me fizeram a barba e cortaram meu cabelo, olha que bom? Aqui eu tenho mais atenção do que vivo e lá fora, e se você faz medicina esse pedido vai para você; eu não sei o nome daqui, mas se você encontrar no seu laboratório de anatomia um cara no formol (ou até mesmo em uma bandeja, preparado para abri-lo, vai saber o dia de amanhã, não é mesmo?) de cara limpa com um olho castanho e outro branco, dá um tchauzinho, um beijo ou aceno, sei lá. Agora se você é um “normal” qualquer, não esquece daquele farrapo da calçada................................continue a ignorá-lo! ..........................................Afinal, que diferença isso vai fazer?.............................................Thiago D.
Um comentário:
É Thiagão vc é foda mesmo....sensacional esse conto do mendigo morto....vc sem dúvidas é um talento que precisa ser descoberto...e rápido. Continue assim q vc vai longe...Só falta mesmo é jogar esse talento na pelicula....Abração. Bruno Sanchez
Postar um comentário